Inédito, maracujá roxo da Bahia é aposta para se tornar símbolo de produção orgânica
07/07/2020
De acordo com o pesquisador Raul Castro, vinculado à Embrapa Agrobiologia (RJ), o maracujá roxo apareceu a partir dos cruzamentos controlados, para melhoramento genético, entre maracujazeiros.
Fruta exótica no Brasil, mas muito difundida no mercado internacional, sobretudo o Europeu, o maracujá roxo está sendo visto por produtores rurais e pesquisadores da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) como uma aposta para se tornar símbolo de produção orgânica (sem uso de defensivos agrícolas) brasileira.
Informações divulgadas esta semana sobre o desenvolvimento do primeiro sistema de produção orgânica do maracujá do Brasil, por parte da Embrapa em Lençóis, na Chapada Diamantina (BA), dão conta de que o maracujá roxo (Passiflora edulis) apresentou as melhores características para a fruta tipo exportação.
De acordo com o pesquisador Raul Castro, vinculado à Embrapa Agrobiologia (RJ), o maracujá roxo apareceu a partir dos cruzamentos controlados, para melhoramento genético, entre maracujazeiros. O resultado foi uma fruta com menos teor de acidez que o maracujá amarelo e maior tolerância às doenças do maracujazeiro.
“Vamos lançar ano que vem o maracujá roxo como material para cultivo orgânico de maracujá por ter qualidades que se enquadram muito bem dentro do sistema, como ser mais tolerante às pragas, pela característica da poupa e do suco, que são mais agradáveis o paladar”, disse o pesquisador Raul Castro. (ouça a entrevista)
O maracujá roxo é resultado de pesquisas realizadas desde 2011 numa área de 80 hectares que pertence à empresa Bioenergia Orgânicos, a qual desenvolve em Lençóis um projeto agroindustrial voltado para produção e beneficiamento de frutas orgânicas (in natura, polpa e suco), com vistas ao mercado nacional e internacional.
Maracujá roxo tem mais suco que o convencional (Divulgação/Embrapa)
A área total da Bioenergia Orgânicos, que está há dez anos em Lençóis, é de 3,5 mil hectares, localizados no povoado de Tanquinho, a 20 km da cidade e a apenas 2 km do aeroporto.
O projeto de agroindústria já teve investimentos de mais de R$ 50 milhões, incluindo desde a compra da terra a investimentos em pesquisas.
Nesse tempo, foram testados 14 genótipos de maracujá. Outros dois genótipos que se destacaram foram híbridos BRS Sol do Cerrado e BRS Gigante Amarelo – ambos da casca amarela.
A produtividade deles, diz a pesquisa, é de 28 toneladas por hectare, quase três vezes mais que a do sistema convencional, de 10,5 toneladas/hectare.
A produtividade do maracujá orgânico da Chapada também supera em muito a média nacional, de 13,5 toneladas por hectare, e outra vantagem é que eles tiveram a produção de frutos iniciada com quatro meses, enquanto que no sistema convencional isso ocorre com no mínimo sete meses.
Maiores produtores
No Brasil, o maior produtor de maracujá é a Bahia, onde há 16 mil hectares plantados em 191 dos 417 municípios, segundo dados de 2017 (os mais recentes) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O estado tem produção de 170.910 toneladas, o que corresponde a 31% da produção nacional, de 554,5 mil toneladas. O segundo maior produtor do país é o Ceará (94,8 mil hectares) e o segundo Santa Catarina (46,1 mil toneladas).
Na Bahia, os municípios com maior produção, ainda com base nos dados de 2017 do IBGE, são Livramento de Nossa Senhora (30 mil toneladas), Ituaçu (11 mil toneladas) e Dom Basílio (10 mil toneladas).
Em Lençóis, onde ocorreu o experimento da Embrapa, não houve produção de maracujá em 2017, segundo o IBGE, mas os resultados do sistema orgânico deixaram empolgados os proprietários da empresa Bioenergia Orgânicos, que deve entrar em funcionamento total em cerca de um ano a dois anos, com a produção inicial de manga e maracujá.
A empresa vem realizando apenas pesquisas de melhoramento em frutas e sistemas orgânicos, com auxílio da Embrapa – mais de 60 variedades de frutas já foram pesquisadas. Além disso, tem promovido cursos nas cidades da região com vistas ao preparo dos pequenos agricultores.
Em Lençóis, a Bioenergia se instalou depois de pesquisar um local adequado em três estados do Nordeste (Bahia, Ceará e Pernambuco). Esse local deveria ter terras virgens, ser próximo ao rio e onde os pequenos agricultores (futuros parceiros na produção comercial) não tivessem o “vício” da agricultura convencional.
Outras frutas também estão em estudo na Bioenergia, como o abacaxi imperial (sem espinhos na casca), acerola, goiaba e banana princesa, variedade parecida com a banana-maçã.
Um dos sócios da empresa Bioenergia Orgânicos, Osvaldo Araújo informou que além dos genótipos híbridos BRS Sol do Cerrado e BRS Gigante Amarelo, eles pretendem cultivar o maracujá da casca roxa (Passiflora edulis) para atender ao mercado europeu, onde o consumo de maracujá com a casca dessa cor é mais tradicional que no Brasil.
“A ideia é o consumidor ver o maracujá roxo na prateleira do supermercado ele saber que é orgânico, algo automático, só nós estamos produzindo esse maracujá. A Embrapa ainda não registrou esse produto, nossa ideia é que ele seja registrado para o sistema orgânico”, disse Araújo.
Cultivo de maracujá roxo orgânico em Lençóis (Divulgação/Embrapa)
Fonte: @mariobtagro
SERVIÇO
Para mais informações:
Embrapa Mandiocultura e Fruticultura, Cruz das Almas, Bahia
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Clique aqui para ver na íntegra o Sistema Orgânico de Produção do Maracujazeiro para a Região da Chapada Diamantina, Bahia, da Embrapa